domingo, 19 de agosto de 2012

João Quinada - o mendigo que cativou uma cidade

Nota da editora: Honrosamente abrimos espaço para a literata boavistense, Miracy Farias, que tem a leitura como hobby e a escrita como arte literária expressar seu talento. Em sua crônica, ela narrará a interessante história de um mendigo, sem nome oficial, que viveu e morreu em Boa Vista- PB e cativou a cidade com seu jeito especial de ser. Agradecemos a participação de Miracy. Boa leitura!     

  

                                                           João Quinada
                                                              Crônica de Miracy Farias

                                      “Caminhando contra o vento
                                     Sem lenço e sem documento
                                     No sol de quase dezembro
                                     Eu vou...”


    Isso mesmo! Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, deveria ser o Hino de João Quinada, a trilha sonora deste documentário.
    Recorro à memória histórica para escrever algumas palavras, um resumo de sua vida. Monossilábico, de responder apenas “sim ou não” e quando lhe faziam a pergunta, seu nome é João? Ele respondia: Que nada!
    Daí o apelido desse forasteiro que chegara ao nosso distrito em novembro de 1947, mais ou menos.
    Viera de um mundo que não era seu, cheio dos rostos estranhos, sem lembranças que se encaixassem nos seus pensamentos e sobrevivendo do que sobrava das mesas alheias.
    Perambulava descalço e com os pés machucados, ia resistindo como as ervas nativas, pisadas, maltratadas e renascidas.
    Trouxe bagagens, como seja, bolsas? Que nada, apenas restos apanhados nos montouros e conservados ao  lado da bacia onde comia, no saco que conduzia às costas, sem descanso. Um predestinado! Tinha boa comida? Que nada!
    Fizeram um quartinho, no sítio São Joãozinho, mas ele não quis portas e nem janelas.
    À noite, estava lá; durante o dia; aqui.
    Escutava todos os ruídos da natureza: ouvia as árvores gemendo quando açoitadas pelos ventos; recebia visitas dos bichos da noite; cochilava ao lado dos répteis, sem medo de ter medos e, essa proteção nascia da ausência da consciência.
    Inimigo dos “ímpares” e amigo dos “pares”. Se alguém lhe desse uma banana, só queria duas, ou seja gostava que fosse um par de cada coisa doada.
    Boa  Vista se fez colo para humanizá-lo. Boa Vista é muito coletiva e se fez rede para balançar o homem sem nome.
    Todos queriam bem aquele ser enigmático, porém Oraldo Leite e Lelo Batista adotaram o pedinte com cuidados de “pai”, amoroso e fiel. Amor profilático, como diz Pe. Fábio, nos seus sentimentos filosóficos.
    O andarilho era filho pródigo e Boa Vista o teto do acolhimento.
    Oraldo, o meu marido, foi às lágrimas com a sua morte, no ano de 1992. Foi quando conheci o seu pranto pela primeira vez, após 36 anos de convivência.
    Pediu-me para fazer um cartaz e os dizeres ficaram expostos sobre o seu caixão.
    Eis a mensagem:
    “Deus deve gostar de pessoas comuns, se não gostasse  não teria feito tantas”
    João, não nascestes aqui, mas Boa Vista viveu e cresceu no teu espírito inocente. O mundo te cobriu de andrajos tecidos pela doença e o descaso social, porém, Deus te espera no céu, coroando-te rei. Rei dos humildes. Deus sabe o teu nome e por ele serás chamado.



 Nota da editora: A história de João Quinada foi transformada em DVD. O texto de apresentação é assinado pela professora Maria da Conceição Gonçalves Pereira Araújo. Confira!



João Quinada, uma incógnita encantadora

Maria da Conceição Araújo *

Nunca pude saber de onde veio onomástico João e por que não José para chamá-lo de Zé. Talvez por ser João parafraseou o João bíblico no destino transformador de quem peregrinava, clamava, na aridez da terra-mãe, em seu silêncio de mil vozes...Quem sabe? Caminhava só e, nenhum vira-lata ou bichano, de sete vidas, a ele se aconchegaram. Em outras palavras, nunca precisou de Argos ou Rocinante para acompanhá-lo na procura de uma caverna ou ilha para se estabelecer com o seu séquito de silentes...
Nem Ulisses e nem D. Quixote. Mas tinha um quê dos dois. Era um Cavaleiro andante e errante com espada e ginete invisíveis, que num conto mágico, das Coisas do Nunca, apareceu em Boa Vista: nunca se soube de onde veio e se ia para algum lugar e se tinha algum condado. Sabe-se que no São Joãozinho (coincidência?) estabeleceu a sua ilha/caverna na fortaleza guarnecidada de uma velha ponte... Por que numa ponte?
Invariavelmente, seu dia iniciava com os primeiros raios de sol e rumava a Boa Vista para o repasto do dia e, voltava com os últimos raios deste mesmo sol. Nunca houve nenhum registro que o qualificasse, mas contraditoriamente foi alvo de observações, e sobre ele a imaginação corria e corre ainda solta. Creiam, pois, só nunca lhe atribuíram as características de um extra-terrestre!
Tinha um rosto ovoide e queixo fino, nariz afilado, tez crestada, olhos negros, cabelos densos, negros e estirados como de um cacique a princípio, alto, magro, olhar retilíneo, comumente difuso ou mergulhado como num mundo autista...
Como um peregrino não precisa do dinheiro com o natural apreço. Não tinha comportamento abusivo e, tudo "explicava" numa discreta risada como numa fuga de pauta infinda... João Quinada era mistério!
Chamava-me atenção quando fumava um charuto, sorvia com tanta voracidade que mais parecia uma brasa incandescente e de sua boca saíam baforadas que se espalhavam como grossas nuvens negras que escondiam até o seu rosto e, neste momento, era como se ressuscitassem um guerrilheiro ou um caudilho. Neste momento João Quinada era imponente no seu silêncio e olhar perdido.
Tudo em João Quinada era fugaz, mas o seu mistério não.
Muitas vezes eu e Catarina acompanhávamos o seu Banquete. A Família de Seu Agostinho Lucena tinha um cuidado, quase filial, de não deixá-lo sem almoço. Hoje me recordo de que comia numa lata onde se comprava doce de goiabada Ceci. Era o prato de João Quinada. Pois bem, ainda hoje me vem a interrogação de onde vinha aquele ritual de silêncio que o seguia até terminar a refeição? Ao terminá-la retirava os pequenos restos de comida com um pouco de água e bebia a sua taça primeira. Na segunda, mais cheia de água, a bebia, devagar e sem fazer barulho, a enxugava e guardava na sua polpuda mochila junto a seus poucos pertences, limpava a boca com a manga da camisa.Como  se respirasse e farto sorria para nós duas e partia.
Poderia dizer ainda que ele olhava para as meninas que dele, sem medo se achegavam, ria muito. Nos olhava sem brilho cor, era como se externasse uma lascívia, também, perdida...
Hoje João Quinada veio à Cena, mas jamais profanado o silêncio a que se permitiu. Todos falaram e falam dele, revelando às novas gerações este ser incrível e apaixonante. Agora João Quinada se foi identificado: com manta, com cajado, com espada e com ginete acompanhado por seu silêncio e sua História que será, para sempre, instigante e, sem fim até.

* Profa. Maria da Conceição Gonçalves Pereira Araújo (UFPB/CCA-Areia, PB (Aposentada)
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano
Membro da Academia de Letras de Areia (ALA)
Membro do PEN Clube do Brasil (Seccional PB)



SINOPSE
Um peregrino chega a comunidade de Boa Vista-PB, em 1947, sem mala e sem destino, fixa-se no lugar e passa a conviver com a população, sendo destacado pelas suas particularidades e mistério, conquista alguns padrinhos e madrinhas pelos quais mantém sua vida até o ano de 1992 quando então falece, e levando consigo o segredo do seu nome verdadeiro e sua origem.
FICHA TÉCNICA
Direção:  Flávio Alex Farias
Produção executiva: Soahd Arruda Rached Farias
Trilha sonora Armorial Cordas de Caroá
Roteiro:  Flávio Farias, Maria Oliveira, Manuella Oliveira e Márcia Maracajá
Produção Local: Thomas Guerra, Airton Cunha Gomes e Thallisson Guerra
Participação especial: Tito Neto (João Quinada)
Câmera e edição: Alunos do curso de Arte e Midia (UFCG)

Realização Prefeitura Municipal de Boa Vista, Pontão da Cultura e Universidade Federal de Campina Grande


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Aos pais de outra dimensão

    Fátima Farias


    Manifestação de afetividade, acredito, independe de data especial. Mas, já que hoje, conforme está convencionado, existe um pretexto e todo um clima está voltado para abraçar, almoçar ou passar o dia com o pai, de repente me bate uma saudade maior. Não posso ver nem tocar o meu amado pai. A dimensão que nos separa permite apenas sentir sua sublime energia. Energia que me acalenta, que me faz provar uma sensação de paz, embora não faça superar a falta de sua presença física.
    Filhos e pais que estão neste planeta e que hoje tem a chance de se confraternizar, não percam esta oportunidade. Um pai é muito importante na vida da gente. Para os dois vale a pena refletir a importância desta relação, em alguns casos, só notada quando não é mais possível compartilhar. E ninguém melhor expressou isso     que o grande jornalista Artur da Távola, em alguns trechos da crônica que transcrevo a seguir:
    “A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto... É o começo do balanço da própria vida... É o início da significação. As palavras, antes inocentes, começam a fazer um estranho e novo sentido. Voltam a ser o que significam e não o que aparentam. A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo.
    O que não fizemos, a visita deixada para depois, o gesto adiado, a palavra não dita, a compreensão não exercida, o papo adiado, a advertência desdenhada, o convite abandonado sem resposta. Nunca somos mais sós do que na primeira noite em que já não o temos. Depois piora: dói menos mas a solidão é maior...
    O pai é o mistério enquanto vida e revelação depois de morto. Num segundo entendemos tudo o que, durante a vida nele nos parecia uma gruta de mistérios. Ele só começa a viver quando não está... Seus objetos ganham mais vida, suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas palavras ganham o sentido que só o tempo e a repetição outorgam às coisas”.
    E para complementar a homenagem aos pais que habitam no Além e especialmente ao meu, peço licença ao espírito de Sérgio Bittencourt, para usar o trecho de sua composição musical e dizer ao meu amado pai que “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”

Publicado na  minha coluna dominical no jornal O Norte em 11.08.2002

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O maior brasileiro

Fátima Farias

          O SBT anunciou a primeira eliminatória para eleger ‘o maior brasileiro de todos os tempos’. Chico Xavier e Irmã Dulce são os primeiros da disputa e lamento estarem juntos porque gostaria de votar em cada um, em eliminatórias diferentes. 
         Ambos detentores de todos os méritos para vencer, nenhum teria interesse neste concurso, pois  o único objetivo que movia suas vidas era fazer o bem e doarem-se ao próximo, sem holofotes ou espera de reconhecimento de qualquer natureza.
         Este aspecto aumenta, assim, em nós brasileiros, a responsabilidade muito grande em eleger alguém com méritos para nos representar. Decidi observar critérios como perfil para merecer minha escolha e a primeira foi eliminar políticos. Para mim, não existe qualquer justificativa para um deles representar meu Brasil.     
       Na sequencia das eliminatórias, para disputar o título, votarei em Chico Xavier, Airton Senna, Santos Dumont e Pelé e farei as argumentações:

       Chico Xavier – Modelo de vida digna e reserva moral,  dedicou toda sua trajetória a serviço da paz e da doação de amor ao próximo. Milhares de almas foram consoladas com sua mensagem de fé e otimismo e por isso era respeitado por líderes e seguidores de diversos credos. Escolher Chico Xavier é contemplar a também a arte e cultura nacional. Através da sua psicografia, os espíritos de grandes escritores continuaram a manifestar seus talentos, em mais de 400 obras, tratando de diversos temas. Estes livros estão entre os mais lidos da América Latina, chegando até a superar os de Jorge Amado, além de serem traduzidos em diversos idiomas. O melhor é que Chico reverteu todos os direitos autorais em assistência social para pessoas carentes. Através da literatura e sua vida abnegada, Chico Xavier deixou de ser um ícone brasileiro e passou a ser um símbolo com repercussão nacional.

       Ayrton Senna – Promoveu muitas alegrias ao povo brasileiro e pôs em destaque a logomarca Brasil no cenário mundial. Além do ídolo que foi e carisma que conquistou dos brasileiros, só após sua prematura morte foi que conhecemos mais um aspecto marcante de sua personalidade: ajudar instituições carentes, anonimamente. Sem dúvida, um grande gesto.

       Santos Dumont – Ao inventar o avião, indiscutivelmente, ele prestou um grande serviço ao  planeta, no segmento da tecnologia, possibilitando, assim, encurtar distâncias. Sem dúvida, um dos maiores e importantes inventos de todos os tempos, assinado por um brasileiro, para nosso orgulho.

      Pelé – Também contribuiu para a alegria dos brasileiros, além de levar o nome do nosso país para todos os continentes.

      Estes são os nomes que torço como finalistas para escolha de ‘o maior brasileiro de todos os tempos’. Qualquer um deles que conquistar o título sinto-me bem representada, como brasileira. Mas, apesar de todos os méritos dos demais, revelo que Chico Xavier é o voto do meu coração.

       

domingo, 1 de julho de 2012

Chico Xavier, meu presente e a emoção indescritível

                                     Fátima Farias  



                              
         Há momentos inesquecíveis em nossas vidas.  Existem também presentes especiais que, ao invés dos convencionais, embalados num papel, vem revestido de pura emoção. Faz dez anos que fui contemplada com ambos e continuam repercutindo na minha alma. Fiz questão de olhar o relógio para gravá-los, na minha memória e coração, quando os recebi. Aconteceu dia 28 de março de 2002, às 23h40, de uma quinta-feira, quando fiquei frente a frente com Chico Xavier.  
             Cheguei ao seu lar, acolhida pela excelente receptividade do seu filho, Eurípedes Higino, e o presente da feliz oportunidade, concedido pela amiga Lisle Lucena, que desfrutou da amizade de Chico por mais de quinze anos. Aquele encontro foi um misto de felicidade e emoção, além da realização de um sonho. Só o fato de ingressar no seu ambiente familiar  era suficiente para ser tomada por aquela vibração energética. Já ouvira falar que era assim, mas sinto dificuldade em reproduzir aquela sensação que dele emanava. Simplesmente indescritível! 


              Viajei da capital paraibana,  João Pessoa, acompanhada dos amigos Severino Celestino e sua esposa Graça, Bob Vagner e Iliseu Garcia, para passarmos a Semana Santa em Uberaba  (MG). Do grupo, tive um privilégio maior, ao ficar hospedada com Lisle na residência de Chico. Assim pude conviver com o dia-a-dia daquele ser especial e entender porque era tão amado e respeitado acima de credo religioso. Com o relato desta experiência, publicada no jornal O Norte, onde trabalhava na época, considero a reportagem mais marcante da minha carreira jornalística. Também está registrada, com mais detalhes, no meu livro ‘Encontro com Consciências – Diálogo da unidade com a diversidade’.
        Após o nosso primeiro encontro, uma surpresa maravilhosa. Era noite da sexta-feira, 29 de março. Estávamos na sala eu, Lisle, e a dupla de músicos brasilienses, Carlos Maurício e Izaltino Júnior, que foi tocar para o médium. Acompanhado de seu filho Eurípedes, Chico chega para assistir ao Jornal Nacional e o capítulo da novela O Clone. Ele fez referências ao noticiário, lamentou os conflitos anunciados no Oriente Médio, elogiou a beleza da atriz Giovanna Antonelli, que fazia o papel de Jade, e gostou de ver o baile que passava na novela.

           Transfusão energética - A seguir, naquela sala, aconteceu o ponto alto de minha convivência com Chico Xavier. Eurípedes, o filho adotivo, sentado ao seu lado e fazendo-lhe carinho, saiu por uns instantes e eu ocupei seu lugar. Segurei a mão esquerda de Chico e, ao afagá-la, ele me olhou carinhosamente e sorriu. Instantes depois pensei em soltá-la para deixá-lo confortável, mas, para minha surpresa, era ele quem segurava minha mão direita. Foi quando senti uma vibração tão forte, bombardeando meu ser, como se fora uma transfusão energética. Haja coração! É uma emoção sempre revivida quando relembro.
           Cerca de uma hora depois, Chico pediu para se recolher, deu boa noite e beijou as nossas mãos. O músico Carlos Maurício disse-lhe: ‘O senhor é muito importante’. Ele respondeu: ‘Eu sou muito pequenino’, repetindo a demonstração de humildade, tão peculiar em sua trajetória.
         Ao longo dos quatro dias em Uberaba, convivendo de perto com Chico Xavier, este período foi pontilhado de momentos marcantes. No sábado, os quatro amigos paraibanos chegam do hotel para o almoço com Chico, em sua casa, para um seleto número de convidados. Todos foram unânimes em sentirem-se presenteados e a demonstrar a emoção sentida e expressar felicidade. Era almoço regado a lágrimas. 
Flash da formação da fila para recebimento da cesta básica, no 
Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier


         À tarde fomos ao Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier para assistir e registrar a distribuição de cestas básicas, agasalhos e brinquedos para crianças e enxovais às gestantes. A equipe iniciou os trabalhos com prece, leitura e comentário do Evangelho, fazendo assim a ponte do trabalho social com a assistência espiritual.

           Ecumenismo em ação – Observei que a tendência ecumênica fazia parte do dia-a-dia de Chico Xavier. Primeiro pelo respeito e assistência que ele recebia e tinha para com as pessoas, independentemente de credo. Na copa, onde ele passava grande parte do dia, e no seu quarto, simples como como ele mesmo, esculturas e imagens de Nossa Senhora. Do micro system ecoavam músicas eruditas, mas também as do estilo romântico de Roberto Carlos, Nossa Senhora, Ave Maria, Padroeira e outras do gênero. Como sua hóspede, percebi que a boa energia do ambiente, bastante simples, mas aconchegante, era saudada logo cedo da manhã pelo canto dos bem-te-vis.
           Bastante carinhoso com os seres em geral, Maria Higino Miranda, que trabalhou vários anos com Chico, revelou que ele não permitia a dedetização da casa, para não matar os insetos. Outra peculiaridade, relatada por Maria, é que Chico era tão atencioso com as pessoas que o rodeavam que ele fazia questão de confeccionar, artesanalmente, os cartões de saudação que enviava por ocasião de datas especiais. Uma espécie de hobby que ele cultivava.

          Comemoração do último aniversário de Chico Xavier

           No sábado, 30 de março de 2002, participamos da festa de seu último aniversário (ele completaria 92 anos, dia 2 de abril) e exatamente três meses depois ele se despedia do Planeta, quando nós, brasileiros, comemorávamos o pentacampeonato mundial de futebol. Mas naquela noite de sentimos, testemunhamos e compartilhamos de pura emoção.




Chico Xavier no Grupo Espírita da Prece, no dia do aniversário,
com a medalha que recebeu do Rotary Clube de São Paulo 



           Eram 19h40 quando Chico chegou para a reunião no Grupo Espírita da Prece.  Foi recepcionado por uma multidão com gritos, aplausos e emoção. Todos queriam tocá-lo ou, pelo menos, vê-lo de um melhor ângulo. Muitos haviam chegado ao local cedo da manhã, para conseguir um lugar privilegiado na fila. Os portões de acesso abriam às 16 horas. Era um gesto repetido há décadas, aos sábados.
A imprensa buscava depoimento de pessoas que viajavam milhares de quilômetros exclusivamente para isso. A tarefa era fácil, pois ali estava gente de todas as idades, classes sociais, credos e recantos do Brasil. Durante o dia, constatado num city-tour, placas de ônibus indicavam origem de diversas localidades. Fui informada que os hotéis estavam superlotados.
         Enfim, eu e os amigos paraibanos fomos protagonistas e, ao mesmo tempo, espectadores daquelas doces lembranças, regadas a momentos de muita emoção. Chico ocupou seu lugar na cabeceira da mesa. Começou a reunião com uma prece, seguida da leitura do Evangelho e comentário  da  senhora Marilene Paranhos Silva. Ela ilustrou sua palestra destacando a importância de Deus em nossas vidas e dos exemplos de humildade e amor de Cristo e de Chico Xavier, respectivamente. ‘Com todo respeito a outros missionários, mas não se tem notícias de uma pessoa que haja dedicado mais de 75 anos de sua vida ao trabalho de amor ao próximo. Chico Xavier é um missionário de luz, conforto, amor e alegria’, destacou.
Concluída esta parte dos trabalhos, com uma prece final, foi formada  a fila para os cumprimentos a Chico Xavier. Expectativa, emoção, alegria eram sentimentos expressos nas fisionomias. Incansável, ele recebeu até o último da fila, com a mesma atenção, carinho e alegria. Foi beijado e beijou as mãos de cada um. Eu que experimentei, falo com conhecimento de causa: a vibração daquele gesto é indescritível. Muita gente já chorando, muito antes de se aproximar. Cada pessoa recebia uma fatia do bolo de aniversário com refrigerante.
        Chico Xavier recebeu diversas homenagens artísticas. O Rotary Clube de São Paulo concedeu-lhe uma medalha. Questionado por um jornalista sobre um presente que ele gostaria de receber, respondeu: ‘a paz de Deus para o mundo’, reafirmando a sua trajetória de viver mais em prol dos outros do que de si próprio.
        Quando deixou o Grupo Espírita da Prece mais aclamação do público, num momento em que uma bela lua cheia no horizonte completava a homenagem e parecia também saudá-lo. Obrigada Chico pela felicidade de conviver com sua energia. Você que agora é luz plena, em algum lugar deste imenso Universo!
 
Comitiva da PB com os Eurípedes: Tahan (médico de Chico) e Higino (o filho)

                          ANTES DE CHEGAR À UBERABA
 
 No aeroporto de Belo Horizonte encontramos  
a dupla Pedro e Tiago e aí está o registro

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------



domingo, 17 de junho de 2012

Crônicas para meu amado pai



     Dia 19 de junho de 2012. Há dezesseis anos que meu pai, amado tesouro, partiu para a pátria espiritual. Para repercutir todas as saudades sentidas, desde aquela fria madrugada de Outono, transcrevo as crônicas que lhe dediquei e que foram publicadas no jornal O Norte, onde atuei por quinze anos.
    Agora, já acompanhado de minha mãe, que partiu em fevereiro de 2011, temos dois anjos a velar por nós.

Meu pai, um exemplo de vida
Fátima Farias

    Querido Inácio, tesouro de nossas vidas, felizmente a ‘morte’ não é o fim de tudo. Marca apenas a passagem de mais um ciclo que se vence para o reinício de outro, rumo à plenitude do ser. E é esta convicção que nos fortalece, neste instante, para enfrentarmos as saudades que deixastes ao voltar para a pátria espiritual. A separação, apesar de temporária, dói, mas o orgulho e a felicidade de tê-lo como pai, marido e cidadão exemplar nos confortarão sempre.
    Este privilégio é grande demais para ser esquecido. E os testemunhos que ouvimos, destacando sua probidade incontestável, ecoam nos nossos ouvidos como uma música serena para afagar nossa dor. Tua herança moral será sempre cultivada pelos teus descendentes.
    Especialista em amar a família, o fez de tal maneira que recusava a limitar quantidade de filhas às tuas ‘Três Marias’, costumando computar os sete netos no mesmo patamar de igualdade e ostentava orgulhosamente como um troféu ‘meus dez filhos’. E agora esta frondosa árvore, oriunda da união matrimonial de 58 anos com minha mãe, rende-se às homenagens pelo jardim que foi tua existência em nossas vidas.
    Meu pai, meu tesouro, o laço material desatou e rompeu teu salutar convívio entre nós. E como não devemos contestar os desígnios divinos, só nos resta aceitar que foi chegada tua hora de partir e agradecermos ao Pai Supremo pelo presente que nos deu em tê-lo conosco nesta passagem na Terra. Nosso vínculo afetivo, porém, permanecerá forte, embora em moradas distintas.
    Quem lucra agora com tua ilustre companhia são os entes queridos que o precederam no plano espiritual e que promoveram aquela ‘grande e linda festa’ que nos relatastes nos momentos finais de tua estada na Terra. Nos consola saber que eles te tranquilizaram nas horas mais difíceis de tua convalescência e prepararam bem tua viagem , apresentando-te aquele cenário iluminado que só uma dimensão mais evoluída que a nossa dispõe. Mereces um lugar assim para coroar tua singular trajetória de vida.
    Felizmente será lá que nos reencontraremos um dia. E o mais importante: seremos recepcionados por ti, que, enquanto isso, velará por nós. Que os anjos de luz o acolham bem na vida maior e verdadeira: a eternidade. Nós te amaremos sempre e obrigada pelo grande exemplo de amor e dignidade que plantastes em nosso corações.
Publicado dia 26 de junho de 1996, no jornal O Norte



Um mês sem te ver
Fátima Farias

    Ah, meu amado pai, quantas saudades! Há exatos trinta dias regressastes para a pátria espiritual e este espaço de tempo já parece secular. Às vezes penso estar sonhando, até acordar para a realidade do vazio. Como é triste não poder te ver, te abraçar, conversar contigo. Não está sendo fácil prosseguir a caminhada sem contar com tua presença física, teu aconchego.
    Mas, um dia, quando a angústia estava intensa, comecei a analisar que este quadro de desânimo não é interessante para mim, e muito menos para ti, que precisas desligar-se do mundo terreno para continuar bem tua jornada na nova morada. E imagino o quanto a tarefa é difícil para ti, a julgar pelo apego e amor extremos à família.
    Graças a Deus, a convicção da imortalidade da alma está ajudando-me a amenizar, um pouco, a dor da separação. Lembra-te quando falava sobre isso contigo? É possível que esteja mais claro agora para entenderes. Pois bem, tanto que graças ao Pai Supremo não consigo vê-lo preso a um corpo inerte. Procuro sempre sintonizar o pensamento numa frequência mais sublime. E a imagem que predomina é a de ti desfrutando de um cenário iluminado, alto astral, de muita paz, conquistado com o passaporte, fruto de uma vida digna, que garantiu tua elevação moral e espiritual. Só cultivastes boas qualidades e a colheita de tua morada atual só poderia ser positiva.
    Quando faço uma viagem de recuo no tempo, vejo muito forte a trajetória de tua vida ao nosso lado. As lembranças fluem como um projetor de slides, descortinando cada passagem, refletindo na tela mental do meu ser. É emocionante reviver estes momentos, pois ao teu lado só conhecemos paz, amor e felicidade. Esta é a opinião de todos nós, que orgulhosamente fazemos parte de tua família, ou melhor, tuas sementes.
    Ah, tesouro de minha vida! Apesar de não poder tocá-lo nem vê-lo, sinto permanentemente tua presença espiritual ao meu lado. E não poderia ser diferente. O forte vínculo afetivo não haveria de extinguir-se pelo fato de estarmos separados apenas pela barreira do invisível.
    E quando acontece de flagrar-me angustiada, passo a refletir as palavras de André Luiz: “A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das ilusões (...) Uma existência é um ato, um corpo – uma veste (...) a morte – um sopro renovador”. Então, até o dia do nosso reencontro. Reafirmo que te amarei sempre.

Publicado dia 19 de julho de 1996, no jornal O Norte


Minha eterna e suave lembrança
Fátima Farias

    Ontem fez exatos oitenta anos que a alegria tomou conta do lar do casal Joaquim e Elvira, com o nascimento daquele que mais tarde seria meu pai. E a primogênita da família – Ana ou Naninha – bastante apegada à família – inaugurava ali o ciclo de amor extremo à sua irmandade, reservando ainda doses para os cinco irmãos seguintes e sua descendência.
    O amor foi a tônica daquele lindo relacionamento, ressaltado por muitos, e que tive a oportunidade de admirar e conferir mais tarde. Pelo que pude observar meu pai assimilou bem as lições ou exemplos de sua mana e os aplicou à família, formada por ele e minha mãe. E ainda desdobrou a chama para afetiva para seus familiares mais próximos.
    Fui acostumada a conviver com todo aquele aconchego e admirar aquela parceria. Gostava de conversar com titia e ouvi-la falar sobre pessoas da família, que minha geração não conseguiu alcançar. Depois passava a repercutir estas histórias junto ao meu pai. Ele costumava ressaltar a união e afetividade, que reinava entre seus tios maternos, bem como o forte vínculo que nutria com os tios paternos.
    Achava aquilo tão lindo e cada vez mais ia estreitando os laços de afinidade com meu pai. Compreendia, enfim,  a herança de seu extremado amor à família que ele fundou com minha mãe, donde resultou em quatro filhas (a primeira nasceu morta) e sete netos, considerados, por ele, ‘joias raras’. Com é doce lembrar a convivência com ele!  Ano passado, nos nossos bate-papos, começamos a planejar a festa dos seus 80 anos. Ele aceitava a ideia, mas com o passar do tempo, quando voltava a falar no assunto, talvez sentindo o peso da convalescença, não dizia, mas passava a expressão que ‘não chegaria lá’.
    Parecia uma intuição. E hoje, há exatos cinco meses, Deus – nosso Pai Supremo -  entendeu que havia concluído sua missão na Terra, e o levou de volta para a pátria espiritual. Deveria estar precisando de alguém especial naquele plano para alguma tarefa de amor e convocou um especialista. Mas parodiando o  big-Gibran: levou-o de “entre nós”, mas “não de nós”.
    Mesmo assim, ontem não foi possível realizarmos aquela festa preferida – a reunião com sua família – mas certamente daí você recebeu todas as nossas vibrações e preces de amor, emanadas do fundo do nosso coração. A eterna e suave lembrança, por enquanto, é a senha que nos sintonizará para sempre, no intercâmbio entre dois mundos. Sempre agradecendo a Deus, o pai maravilhoso que tive, e tenho, dado a certeza que você não morreu, mas apenas vive noutro lugar, esperando-nos até o dia do reencontro, por enquanto, receba expressões do profundo amor de sua família. Além de pai temos agora um anjo a velar por nós. Muito obrigada e plena espiritual!
Publicado dia 19 de novembro de 1996, no jornal O Norte


Meu presente de Natal
Fátima Farias

Parte da família reunida
Ouvimos uma batida no portão
Segue Carol para abrir a porta
Deve ser Adriana que chegou
Tamanha surpresa toma conta de nós
Não era ela. Eras tu, meu pai
Com aquele teu jeitinho angelical,
Ligeiro, cansado e molhado de suor.
Meu coração, tomado de alegria,
corro para te abraçar
Não deu tempo. Não consigo.
Felicidade durou pouco.
Acordei. O sonho acabou.
Tristeza? Oh não!
Continuas aqui
Embora não podemos ver-te,
mas sentir-te.
Não poderia ser diferente, nem faltar
É Natal! Tua festa preferida
O reencontro com a família,
viestes nos visitar
Que maravilhosa presença.
Ficas conosco, amenizas nossas saudades
Consola-me, meu pai
Meu lindo presente de Natal!

Era dia 20.12.96, quando tive este sonho, pela primeira vez de forma nítida. Exatos seis meses e um dia depois que meu pai partiu para a eternidade. Daí, fui inspirada a escrever desta forma. Não entendo de poesia, mas sem compromisso com as regras poéticas, saiu isso aí.
 

Um ano depois...
Fátima Farias

    Por alguns instantes pensei que a felicidade fosse palpável. É que um dia destes senti uma energia positiva aproximando-se e identifiquei meu pai vindo ao meu encontro. Com o coração tomado de imensa emoção corri para abraçá-lo. Não consegui. A alegria durou pouco e a frustração prosseguiu.
    E assim se passou um ano que o vi e o abracei pela última vez. Desde então a saudade fincou morada nos meus dias, para combinar com aquela madrugada – um final de Outono como hoje – que marcou a nossa separação, ao viajar para a eternidade. Para driblar essa lacuna na minha vida às vezes finjo que ele está lá em casa e apenas a distância geográfica nos separa. Ledo engano. Não demora muito, descortina-se a fantasia para dar espaço à realidade.
    Daí compreendo a observação de Artur da Távola, de que “a perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto”. Faz sentido. Quanta insegurança! É duro já não tê-lo ao meu lado para consolar as tristezas e compartilhar as alegrias. Fica difícil entrar em nossa casa e não contar mais com aquela felicidade, estampada no largo sorriso e brilho no olhar, pela minha chegada. Por isso adio o que posso esta visita.
    Ao invés do aconchego, me deparo com o vazio, apesar de sua marca estar presente em cada recanto. Convicta da imortalidade da alma, posso até senti-lo de alguma forma, mas como é complicado não poder vê-lo nem tocá-lo. “Naquela casa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”. É isso mesmo Bittencourt.
    Felizmente o amor não se extingue. Transcende a barreira do invisível. Deus tem me fortalecido para amenizar a solidão. Com carinho, cultivo a sua memória de homem bom e do bem, considerada o maior patrimônio da família. Não me contenho em ficar só para mim o privilégio de ter um pai exemplar e amoroso. Daí repercutir seus exemplos de amor, dignidade, fortaleza, simplicidade...
    Pela sua trajetória de vida não tenho dúvida de que você conquistou um lugar compatível na dimensão em que se encontra. E agora, meu amado pai, o que nos resta para curar as saudades? A resposta está no tempo. Nada melhor do que o sábio tempo para a solução final de todas as coisas. E até o tempo do nosso reencontro, meu eterno tesouro. Muita paz!

Publicado dia 19 de junho de 1997, no jornal O Norte

segunda-feira, 14 de maio de 2012

De entrevistadora à entrevistada

Durante sua passagem à Paraíba, em fevereiro, o jornalista Orson Peter Carrara, editor do portal      www.oconsolador.com   
me convidou para conceder-lhe uma entrevista.  
Na ocasião eu ainda integrava a diretoria da Federação Espírita Paraibana. 
Eis o resultado:
http://www.oconsolador.com.br/ano6/260/entrevista.html
-----------------------------------------------------------------------------
 
Conheça o portal www.oconsolador.com
Aqui você encontrará uma variedade de temas e informações interessantes

------------------------------------------------------------------------------

                                                 Entrevista          
Ano 6 - N° 260 - 13 de Maio de 2012

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)

 
Fátima Farias:
            “A vida é um perene aprendizado”

A jornalista paraibana fala sobre o movimento espírita na Paraíba e suas atividades na divulgação espírita


     Maria de Fátima Farias (foto), mais conhecida no meio espírita como Fátima Farias, natural de Boa Vista-PB e há 33 anos radicada na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, é bacharel em Comunicação Social pela UFPB, com formação em Jornalismo e Relações Públicas.
Espírita desde 1994 e autora do livro “Encontro com Consciências – diálogo da unidade com a diversidade”, Fátima faz parte da equipe dirigente da Federação Espírita Paraibana, em que exerce o cargo de Assessora de Comunicação Social e vice-diretora do Depto. de Divulgação Doutrinária. 
Na entrevista que gentilmente nos concedeu, ela fala sobre suas atividades e o movimento espírita paraibano.

Faça um perfil do movimento espírita na Paraíba.
Cada vez mais crescente, tanto em quantidade, mas, sobretudo, e o melhor, em qualidade.  Os longos mandatos dos presidentes da Federação Espírita Paraibana (em 96 anos foram apenas sete) têm favorecido toda a pavimentação do positivo panorama atual. Acredito que a ininterrupção, de certa forma, facilitou o progresso das ações. Cada um contribuindo para semear o que temos hoje. A trajetória está pontilhada por fatos interessantes. Estes detalhes podem ser conferidos no portal www.fepb.org.br, no link que trata da história da FEPB e nos perfis dos presidentes.

Em seu trabalho de divulgação espírita, o que mais lhe chama a atenção?
É a ausência de preconceito e a receptividade dos meus colegas jornalistas, tanto no sentido de repercutir as notícias quanto de me procurar, no convívio diário da Redação, para conversar ou obter maiores esclarecimentos sobre a Doutrina Espírita. Nunca enfrentei dificuldades para abrir e conquistar espaços. Aliás, divulgar a mensagem espírita é muito fácil, porque, por si só, ela desperta interesse e atrai a atenção de leitores, ouvintes e espectadores.

De que modo as entrevistas que tem tido oportunidade de preparar chamaram a atenção do público?
Entrevistei Divaldo Franco várias vezes, o neurofísico francês Patrick Drouout, o pastor Nehemias Marien, o arcebispo Dom Aldo Pagotto, os artistas Nando Cordel e Paulo Figueiredo, só para citar alguns. Pois bem, as pessoas que não liam o jornal no dia, mas que ouviam comentários da repercussão positiva, me solicitavam cópias da entrevista. Foi quando decidi reuni-las no livro “Encontro com Consciências – diálogo da unidade com a diversidade”, que reúne entrevistas com diversas personalidades. Proporciona ao leitor uma visão sobre a consciência atual e evolutiva do ser, num cunho ecumênico. Contém abordagens sobre ciência, filosofia, religião, arte e cultura.

Na elaboração de matérias, quais foram as mais marcantes?
A primeira foi sobre o Museu das Almas do Purgatório em Roma, cujo acervo legitima a comunicação de Espíritos na própria Igreja. O fato é que o parapsicólogo baiano Clóvis Nunes foi entrevistado no programa Fantástico, do dia 28 de outubro de 2001, sobre o assunto, por acompanhar a reportagem in loco. O detalhe é que ele me concedeu um furo, numa entrevista de página inteira, inclusive com chamada na capa, intitulada “Espíritos se comunicam na Igreja”, publicada no mesmo domingo. E assim os leitores do jornal O Norte conheceram as novidades logo cedo, enquanto os telespectadores só conferiram no final da noite. Outra matéria, que considero a mais marcante  da minha carreira, foi a reportagem sobre Chico Xavier. Tive a felicidade de passar a Semana Santa de 2002 hospedada em sua residência e participar das comemorações do seu último aniversário entre nós – 92 anos. Três meses depois ele deixou este planeta. Este foi um grande presente que recebi de minha amiga Lisle Lucena, que há vários anos desfrutava da amizade daquele ser especial e costumava ser sua hóspede. Cada vez que relembro daqueles dias e convívio com aquela energia tão salutar e indescritível – modelo do Cristianismo – ainda me emociono. Sinto-me privilegiada e gratificada! A reportagem completa está no final do meu livro.

Como tem sido sua atuação na mídia espírita, especificamente?
Já participei de vários sites e colaboro com as revistas Tribuna Espírita e a Revista Internacional do Espiritismo. Recentemente inaugurei o blog  www.horizontes-fatimafarias.blogspot.com. É um espaço, como o próprio nome já sugere, onde abordarei os mais diversos assuntos voltados para temáticas ligadas a notícias do Bem, que favoreçam a difusão de aspectos artístico-culturais e a qualidade de vida, sobretudo à consciência atual e evolutiva do ser.

Fale-nos algo sobre a programação da Federação Espírita da Paraíba.
Todos os departamentos estão em plena efervescência de ações, em todas as vertentes: cursos, assistência social, atendimento fraterno e mediúnico, infância e juventude. Na área de Comunicação Social e Divulgação Doutrinária, têm-se conquistado excelentes espaços na mídia, especialmente para difundir os eventos e esta avalanche de filmes espíritas, tem-se encartado diversos suplementos em jornais dominicais. Agora, um dos pontos altos para massificar a mensagem espírita é o projeto “Divulgando a imortalidade”, que acontece no período de Finados, com faixas e distribuição de mensagens nos cemitérios da capital e de diversos municípios.

Na capital e interior, a Doutrina Espírita igualmente tem despertado interesse e busca por livros, estudos e cursos? Como tem sido a preparação  para essa nova fase de divulgação espírita no Estado?
A gestão do presidente José Raimundo de Lima contribuiu bastante para a expansão da mensagem espírita na Paraíba. Houve ampliação no número de centros espíritas, tanto na capital quanto no interior, além de um maior intercâmbio com a implantação de polos e coordenadorias regionais. A Federação Espírita da Paraíba (FEPB), inserida no contexto nacional da Federação Espírita Brasileira, dissemina todas as diretrizes federativas para viabilizar o máximo de potencial que contemple o estudo, a divulgação e o atendimento, à luz da Doutrina Espírita.

A confortável sede da FEPB propicia espaço muito favorável para eventos doutrinários. Comente sobre os eventos de caráter estadual utilizando a citada sede.
A mudança da sede para um espaço maior foi fundamental para a expansão das atividades e um melhor atendimento ao público: livraria ampla e com um acervo sortido, salas amplas para os cursos. Temos um centro de convenções, sendo o auditório maior com capacidade para mais de 800 pessoas, climatizado e com cadeiras confortáveis. Para se ter uma ideia da demanda do público, nas duas recentes visitas de Divaldo Franco foi preciso providenciar telão para acolher o público.

Deixe-nos uma mensagem final.
Acho que ainda tenho muito o que aprender, porque a vida é um perene aprendizado, para se burilar nossas imperfeições. Deus é uma luz e a energia que busco, no sentido de me nortear e fortalecer. E, assim, a mensagem em que mais o identifico é assinada por Léon Denis: ‘Tende como templo o Universo, como altar a consciência, como lei a Caridade, como imagem Deus’. Por fim, sou muito grata pela oportunidade de me fazer vivenciar a troca de papéis, de entrevistadora a entrevistada.





sábado, 12 de maio de 2012

As nossas mães...

                                                                         Fátima Farias
                       
     Hoje é convencionado pela sociedade como sendo o ‘Dia das Mães’.  Há quem diga que tudo não passa de uma simples estratégia comercial, consumismo, ou coisas do gênero, sob o argumento de que Dia das Mães é todos os dias, assim como o Dia dos Pais e por aí vai.
      Mas pensando no tema que iria abordar hoje, comecei a pensar em aproveitar o gancho, ‘matutei as ideias’ e descobri que temos o privilégio de contarmos com muitas mães, além daquela especial, que nos gerou. Tudo começa com a mãe-modelo -  Maria Santíssima, nossa mãe-mor. A própria história tem reafirmado seu poder, proteção e revelação da possibilidade da comunicação entre os dois mundos. Estou me referindo a quando ela apareceu, pela primeira vez, num dia 13 de maio (como o de hoje), do século passado, em Fátima - cidade de Portugal, para três crianças. Ali, ela expressou seu exemplo e mensagem de fé, amor e esperança, manifestado àqueles pastorinhos como porta-vozes para o Mundo, provando que a mediunidade (intercâmbio entre os dois mundos: material e espiritual) é uma realidade.
     E como o assunto principal é Mãe, temos ainda as nossas mães Natureza e Terra, que nos premiam com suas belezas naturais e o tempo, ininterruptamente, do nascer ao pôr-do-sol e ainda intercalados com a noite e madrugada, para o lazer e descanso.  O  que dizer da mãe Lua? Depois que o pai Sol     descansa, em noites de lua cheia, nos oferece um espetáculo especial de romantismo, regado a estrelas cadentes e luz plena, refletindo nas águas dos mares e rios, enebriando os enamorados e inspirando poetas e seresteiros. É um verdadeiro show de beleza e energia contagiante!
     Não podemos ainda esquecer a mãe Vida, uma eterna professora diária, que, se soubermos decifrar bem suas lições, temos muito o que aprender, com seus alertas para nossa evolução espiritual. Fiquemos atentos aos sinais. Mas, quero concluir esta coluna desejando bênçãos divinas para todas as mães, especialmente às minhas irmãs Maria do Socorro e Maria Jesus. Um carinho e vibração de amor para minha mãe Lecy, que já habita na dimensão espiritual. 
     Por fim, que a mãe-suprema, Maria, abençõe a todos nós, os seus filhos. Assim seja.

Parte deste artigo foi publicada na minha coluna dominical do Jornal O Norte, em 9 de maio de 2004.


              Homenagem à minha mãe




 



João Pessoa, fevereiro de 2011, ocasião em que ela foi morar na dimensão espiritual.

================================================================