quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ecos do baú de Aninha

                                Escritora abre vários baús
                                           Langstein de Almeida Amorim *

    
O livro "Memórias Guardadas no Baú de Aninha"  teve a sorte de ser escrito pela respeitável escritora M. do Socorro Farias de Almeida, cujo respeito à verdade histórica a fez abrir vários baús a procura de provas.
    Um livro dessa natureza passa a ser parte integrante do acervo que procura desvendar os descendentes de Teodósio de Oliveira Ledo.

      Boa Vista, mãe de centenas de valentes motoristas que nos anos 60,70 e 80 do século XX, venciam as péssimas estradas do Sul, agora é mãe carinhosa de mais uma escritora de talento.
     Reservo-me o direito de desejar que outras obras alicercem a cultura boavistense.
     Parabéns de Langstein de Almeida Amorim


                  
                                       João Pessoa, 18 de maio de 2012
•    Langstein de Almeida Amorim, advogado, é filho de Dr. Antônio Pereira de Almeida, autor do livro ‘Os Oliveira Ledo e a genealogia de Santa Rosa’, uma das obras fonte de pesquisas citadas pela autora Socorro Farias e também um dos homenageados no livro.




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              Carta para Socorro Farias
                                      Agassiz Almeida *

        Eu não posso me calar. Em atenção especial à Conceição Araújo, estimada amiga, e a toda família Oliveira Lêdo da qual somos integrantes, ressalto, neste ensejo, o trabalho de exaustiva pesquisa e devotado esforço de Maria do Socorro Farias na elaboração do seu livro,  Memórias guardadas no Baú de Aninha.
          Na construção das obras literárias, sobretudo nas de natureza genealógicas, nos apoiamos sempre nos trabalhos e pesquisas de nossos antecessores.
           É o grande condão da criação humana.
         Sobre o livro citado, esta é a minha opinião, e creio também de todos os que caminham e fazem a saga dos Oliveiras Lêdo.
         Abraços afetivos de quem é admirador de todos aqueles que operam com pesquisas e a criação do pensamento humano.


                                João Pessoa, 08 de maio de 2012


                                       Agassiz Almeida        

•    Agassiz Almeida é filho de Dr. Antônio Pereira de Almeida, autor do livro ‘Os Oliveira Ledo e a genealogia de Santa Rosa’, uma das obras fonte de pesquisas citadas pela autora Socorro Farias e também um dos homenageados no livro. Agassiz Almeida é advogado, ex- deputado estadual e federal constituinte. Como escritor, escreveu vários livros, com destaque para ''A República das Elites'' e ''A Ditadura dos Generais''.




Confira mais depoimentos a seguir:
                                  

                 Ecos do baú de Aninha

EDITORIAL
    Estamos vivenciando a era da tão propalada Transição Planetária. Evolução é a palavra-chave do momento. Evolução plena, em todos os aspectos.  Sintonizada neste contexto surgiu a ideia de criar este blog, com uma denominação Plural - Horizontes – mas com um interesse único: repercutir apenas temas positivos, que contribuam para nos fazer melhor. Melhor para nós mesmos e para o nosso convívio salutar, na interação com o próximo. E assim sendo, eis o nosso diferencial: chega de temáticas depressivas!
     A inauguração do blog coincidiu com o lançamento do livro ‘Memórias guardadas no baú de Aninha’, da autoria de minha irmã, Socorro Farias. O tema do livro é instigante, pois trata de ancestralidade versus descendência. Herdamos dos nossos pais o amor aos laços de família. Como é importante exaltarmos nossos antepassados, que são a origem de cada um de nós! Na Bíblia, diversos versículos falam em descendência, além da árvore genealógica de Jesus.
     Dando um salto para a atualidade, encontramos o alemão Bert Hellinger, autor da abordagem sistêmica Constelação Familiar. Ele nos incentiva a valorizar e honrar nossa ancestralidade, para favorecer o reencontro com nossas referências. Socorro Farias nos proporciona esta ponte. Ela passou anos a fio debruçada em pesquisas de fôlego, quer consultando informações em obras ou entrevistando pessoas.
     O resultado aí está. Autodidata, Socorro tem o dom de proporcionar uma leitura prazerosa e informativa aos leitores. Ela dá vazão ao seu interesse de honrar os nossos antecedentes, registrar e reescrever a história, atualizando dados, contando causos e curiosidades familiares.
     ‘Memórias guardadas no baú de Aninha’, assim como o primeiro livro Abrindo o Baú de Aninha, tem despertado interesse, não apenas nos descendentes de Teodósio de Oliveira Ledo, mas também de pessoas em geral, apologistas de histórias de famílias, aspecto bastante investido pela autora. Foi aí que a incentivadora cultural boavistense, professora Conceição Gonçalves Pereira Araújo, me sugeriu a abertura deste espaço, para ampliar e estimular o interesse genealógico.
     - Fátima, Horizontes precisa repercutir os ‘Ecos do baú de Aninha’.
     Sugestão aceita. Aí estão os textos, prezados internautas. Boa leitura  e viva os laços de família!
          
                                                                                                                                                                          Fátima Farias - editora de Horizontes
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                                              Baú à Vista
                                               Roniere Leite Soares*


No Baú de Aninha
Descobri, sem vaidade,
A nobreza das origens
Que me dá propriedade
De fitar minha família
Com o zoom que vê saudade!

Pois com olhos apurados
Ampliando o que é remoto
Trago meus antepassados
Congelados numa foto
Transcendendo deste livro
Num baú no qual me noto.

Ó Socorro de Lecy,
Vós sois nobre retratista...
Lecyonaste com teu estro
Pelo dom de ser artista
Boa parte do passado:
Boa nova à Boa Vista!
      
(*) Roniere Leite Soares é professor da Universidade Federal de Campina Grande  e multimídia (poeta, escritor, desenhista técnico, chargista, músico, compositor)

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                               (Re) apresentando o livro  
       'Memórias Guardadas no Baú de Aninha’
                                          Egberto Araújo* 


     Fui convidado e, com muita satisfação, aceitei fazer a Apresentação do livro Memórias guardadas no Baú de Aninha, de autoria de Maria do Socorro Farias Almeida, por entender, ao LER os originais, que a autora revisitando a obra de Antonio Pereira de Almeida, denominada Os Oliveira Ledo e a Genealogia de Santa Rosa, estava propiciando às novas gerações a oportunidade de conhecer aquele magnânimo trabalho, ao qual adicionou novos nomes de familiares que surgiram depois, ao longo de 34 anos, e alguns contos.
        Sou Agrônomo, com muito orgulho, e ao apresentar o livro Memórias Guardadas no Baú de Aninha não me apropriei, e nem tenho a intenção de me apropriar de atribuições de um Historiador. Fiz a apresentação como um leitor, privilegiado por ter sido o número um, e a fiz num texto sucinto, por ver um trabalho de Genealogia escrito de uma forma descomplicada e num estilo que atraia agradavelmente o leitor buscador de sua ascendência e de seus laços de família.
       Com relação à obra primordial Os Oliveira Ledo e a Genealogia de Santa Rosa,  na qual Maria do Socorro Farias Almeida e outros autores tem se inspirado em suas incursões genealógicas, vou referir com uma analogia, me expressando numa linguagem de Agrônomo: a obra de Antonio Pereira de Almeida é como um centro de origem de uma espécie a quem os melhoristas de plantas sempre recorrem quando querem desenvolver novas variedades e cultivares e os livros dela derivados são novas variedades e cultivares colhidas da frondosa árvore e semeadas em novas glebas.


•    Egberto Araújo é engenheiro agrônomo, prof. dr. em Fitopatologia, prof. Associado, aposentado da UFPB, do Centro de Ciências Agrárias - Campus de Areia, PB.Fotógrafo de Natureza.
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              Contar histórias é o mais importante
                           Francisco de Assis Ouriques Soares *

      “Contar histórias é o mais importante. É assim que fazemos as pessoas nos pertencerem para sempre”.
      Na fala de um menino, personagem do filme Austrália, recebi essa citação como um troféu; um estímulo a continuar fazendo o que aprendi  desde muito cedo: ouvir e contar histórias.
    Ouvindo e transmitindo, fiz crescente meu interesse pelas pessoas e o universo em que estou inserido. Tanta importância despendida, resultaria na contextura de um livro, intitulado 'Bôa Vista de Sancta Roza: De fazenda a municipalidade'. Com essa publicação, entendo que imortalizei personagens e situações, fazendo com que nos pertencessem para sempre. O mais gratificante é constatar que não estou só nesse pleito. Pelas gerações tem se levantado memorialistas, sinalizando que a prática de contar histórias não estará fadada ao esquecimento, entre os nossos.
       Num ato de bravura e de extrema perseverança, a conterrânea Maria do Socorro Farias de Almeida brindou-nos, recentemente, com a publicação de um segundo livro sobre a memória local, intitulado Memórias guardadas no baú de Aninha. Recheado de histórias, colhidas com trabalho esmerado e responsável – ou na consulta aos livros, ou na abordagem coletiva – vi nele consumado uma ressalva feita por Severino Pereira de Almeida (Dr. Biu) anos atrás:
      - Tio Antônio traçou o esquema, vocês precisam, agora, dar alma aos personagens.
        Referia-se ao tio, Antônio Pereira de Almeida (Antônio Peba), autor de Os Oliveira Lêdo e a Genealogia de Santa Rosa, ao nos provocar ou nos estimular a dar continuidade a um trabalho que julgasse incompleto, pela natureza transitória do homem e da história. De fato, um nome é pouco demais para exprimir uma existência, principalmente quando não pertencemos a sua geração. Só com a discrição minuciosa ou superficial das características do indivíduo, perpetuamos sua presença.
        Admiro a iniciativa da autora. Apesar de estar a mais tempo na capital paraibana - onde reside -  que em sua terra natal, mantém- se presente e fiel as coisas que aí deixou. Nem a distância nem a modernidade subtraíram a essência de mulher distinta e valorosa. Sem nunca ter tomado conhecimento da sugestão do nobre conterrâneo, ela correspondeu a  expectativa.
      Alegro-me porque estamos progredindo. Hoje somos muito mais gente pesquisando, escrevendo, produzindo e mostrando interesse pela nossa história. Tenho consciência que, tudo quanto for vivido, repassado e registrado, pertencer-nos-ão para sempre.

* Francisco de Assis Ouriques Soares (Kiko),  natural do município de Boa Vista, é jornalista e escritor.

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                                        Carta à Aninha
                                         Mª da Conceição G P Araújo *

Querida Aninha,

      Nesta minha fase de repouso, após um pequena intervenção cirúrgica, Você tem me acompanhado com seus escritos, suas descobertas, seus achados e seus segredos... Hoje com as suas Memórias, desta segunda lavra, com Você tenho  trilhado uma caminhada impressionante pelos recantos de nossa Terra, que a cada página ressuscita, em mim, a justa vaidade de me pertencer, a partir da Gênese iniciada, e tão reverenciada por Você,  pelo Imortal Genealogista Dr. Antonio Pereira de Almeida, que nos outorgou o sentido primordial e supremo da IDENTIDADE.
      Tenho sabido que as suas Memórias estão ultrapassando as fronteiras do País, pois sou da crença de que nestes nossos seiscentos anos de História há um descendente de Boa Vista, um descendente de Teodósio de Oliveira Ledo por este mundo a fora...
Tem sido muito fácil, para mim, nos encontrarmos dentro de seu Baú, pela maneira didática como postou as Grandes Famílias a partir do Capitão-Mor Teodósio de Oliveira Ledo e seus descendentes de modo que, orgulhosamente, chego aos meus.
        Há poucos dias esteve aqui uma amiga, dos tempos do Colégio Santa Rita de Areia, que segundo ela, as bases genealógicas de sua familia vinham dos Gonzaga. Sugeri que folheasse o Compêndio que, para sua alegria, viu nomes queridos perfilados numa sequência que a emocionou e lhe deu um destino de suas origens. Gosto de ler e sentir a maneira especial como trata à fissão dos Ramos Genealógicos e o estilo como conta as histórias de personagens que fizeram parte de minha infância...
        Sei de suas noites indormidas a organizar uma Bibliografia que não foi fácil ter acesso. Sei de sua travessia de nove anos a fazer entrevistas, manter correspondências com parentes distantes. Sei do seu cuidado com a veracidade a autenticidade dos fatos e do respeito aos seus informantes num imenso gosto de compor um LIVRO imenso que, incrivelmente, é suave e gostoso de ler.
       O seu livro está aqui na sala de entrada e quem chega logo vai perguntando e uma boa prosa se instala a partir de Você, é claro!  Um outro volume me acompanha na mesa de cabeceira como um DOCUMENTO PERPÉTUO DE CONSULTA.
       Estou aqui com os meus botões esperando que Você engravide das memórias que ainda restam, O Baú de Aninha III, pois Você bem sabe que ainda tem muito a contar as deliciosas histórias de nossa gente. Nós duas sabemos disto! Como Você sabe estou de Campina Grande para o Roçado do Mato mas, oportunamente, nos encontraremos na Rua de Baixo, nos deliciaremos com os pirulitos de Florinho, com as puxas de Dona Maria de Campeão ou rodopiaremos ao som de valsas eternas quando caminhávamos para a Missa Galo e depois irmos jogar a sorte no Bazar do Mercado Público e sonhávamos ser sorteadas com uma caixa de sabonete ALMA de FLORES...
       Redivivo este perfume, e inebriada por ele deixo-lhe um grande abraço.
           Sua sempre amiga Conceição ou Ceiça com Você me chama e eu adoro.

                     Campina Grande, março de 2012

*Profª M.Sc. Maria da Conceição Gonçalves Pereira Araújo é professora titular  aposentada da Universidade Federal da Paraíba (Extensão Rural, Política e Desenvolvimento Agrícola, Campus de Areia, Paraíba)
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                     Tudo começou com
             ‘Abrindo o baú de Aninha’


     O livro ‘Memórias guardadas no baú de Aninha’ é uma continuidade e ampliação da primeira obra de Maria do Socorro Farias Almeida, ‘Abrindo o baú de Aninha’ (1998). Eis os textos da apresentação daquela obra, pelo jornalista e escritor Ricardo Soares, e apresentação durante o lançamento, pela professora Mª da Conceição Gonçalves Pereira, além de um texto desta editora do blog.

                           Abrindo o baú de Aninha - Prefácio
                                               Ricardo Soares *

        A ideia pode parecer complexa à primeira vista, mas é simples: de cada pessoa pudesse traçar a árvore genealógica de sua família, recuando sempre mais no tempo, o número de seus ancestrais dobraria de uma para outra geração que a pessoa avançasse no passado, pois temos dois pais, quatro avós, oito bisavós etc. Chegaria uma época em que tal pessoa teria vários milhares de ancestrais compartilhando uma geração. Todavia, não é este o objetivo que orienta as pesquisas de genealogistas da estirpe de Maria do Socorro Farias Almeida.
        Abrindo o Baú de Aninha, dentre os inequívocos méritos nele contidos e que são registrados com precisão nas primeiras páginas do livro, pelo comentário de Fátima Farias, detém um desafio especial: o de induzir-nos a certas perguntas extraídas de tantas obras-primas da literatura universal (mormente russas) nas quais a família é retratada como uma instituição trágica e até maléfica.
         Esgrimindo-se um processo de negação calcado em narrativas dostoiévskiana, por exemplo, é possível elencar sombrias arguições sobre a instituição familiar. Algumas delas: se a superstição piedosa e tradicional de que cercamos a família deixasse dizer a verdade a respeito, que contas ela teria de contar? Que martírios sem monta ela teria de prestar? Que martírios sem monta ela teria dissimulado e inexoravelmente feito sofrer? Quantos os corações sufocados, feridos e dilacerados por ela? Quantas as masmorras e quanto os suplícios abomináveis em seus anais? Encher-se-iam poços com lágrimas que ela fez derramar em segredo? Duplicar-se-ia a média da vida humana com os anos daqueles de quem a família abreviou os dias? Ela, família, arroga-se a impunidade das vilanias, o direito dos insultos e a irresponsabilidade das afrontas? É cabente compará-la ao campo que nos dá joio ao cêntuplo e que entrementes o nosso trigo abafa? Há uma espécie conjuração tácita para não apresentar os maus aspectos da família, subtendendo-os com mentiras que os sermonários paternais e a poesia sentimental balançam tal incensório? Seria preciso admitir a família como exercício providencial de nossa paciência e como ocasião constante de heroísmo obscuro?
         As respostas, para aludidas perguntas, resumem-se numa só: a família pode ter defeitos que nos atinjam como golpes de estilete invisível, mas também pode ser o que há de melhor no mundo. É o que consegue comprovar Socorro Almeida ao debastar os ramos de sua árvore genealógica, desvendando-lhe raízes, troncos galhos com disciplina, minudência, acuidade, isenção e bastante carinho.      
        Eis, portanto, um trabalho cristalinamente sincero e valioso nos propósitos que o nortearam; trabalho procedido com a extrema sensibilidade de quem entende trazermos todos conosco máculas originais refletidas no que fazemos de bom ou de mau, de verdadeiro ou falso, ou meio falso, pois ninguém nasce cândido e infenso às naturais impurezas da condição humana.
Em matéria genealógica, a especulação metafísica dos versos de T.S. Eliot assume significado concreto:
           O tempo presente e o passado
           Estão ambos talvez presentes
                                   [no futuro
           E o tempo futuro contido no
                                   [passado.

        Dotada de evidente e brilhante cultura, Maria do Socorro Farias Almeida oferta-nos com este Abrindo o Baú de Aninha, notável contributo, inclusive para a própria compreensão dos pilares hereditários que alicerçaram o lastro colonizante/povoador de Campina Grande/Boa Vista. Com seu magnífico sentimento de família  aliado à sua indiscutível destreza no manejo das palavras, Maria do Socorro Farias Almeida marca presença em nossos espíritos, aproximando-nos na ancestralidade comum.

Campina Grande, 25 de janeiro de 1998

•    Ricardo Soares  é jornalista e escritor

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                                  Uma viagem no tempo
                                                  Fátima Farias *

        Quando me debruço sobre a janela do tempo, recuo no passado e chego à minha infância. Ah, quanta dificuldade para reconstituir a imagem dos meus avós paternos! A lembrança está embaçada pela curta convivência. É que eles viajaram para a eternidade quando eu tinha apenas cinco anos. E quando ouvia a querida prima Cidinha e Maninha (minha irmã Socorro) contarem, com riqueza de detalhes, como desfrutavam a vida na Fazenda deles – o Navalha – eu sentia saudades daqueles momentos que não vivi.
        Dizem que é tão bom ‘paparicado’ de avós. Ah, que pena! Como minha experiência é limitada neste aspecto. Fiquei quase desprovida do aconchego de neta. Digo quase porque, se não fora meu querido avô materno para suprir esta lacuna, até os meus doze anos, não havia sentido este gostinho. Minha avó materna deixou mamãe órfã aos quatro anos de idade. Por isso, perdi praticamente a convivência com a geração ascendente.
        ‘Como família é bom!’ Mesmo com defeitos, que não escapam a nenhuma. Sou tão feliz com a minha! Por isso, quando minha  irmã surgiu com a proposta de compor a árvore genealógica e escrever este livro, achei a ideia o máximo. Vi a oportunidade de viajar no tempo perdido e, a partir daí, resgatar e descobrir as passagens que não curti. Os esforços, felizmente, não foram em vão. Com a avidez de conhecimentos que regeu sua pesquisa, ela foi longe, retrocedendo no tempo e conseguindo descobrir preciosas informações de até oito gerações anteriores a sua.
       E o mais importante: não se restringiu a citar nomes de pessoas. Sedenta de saber cada vez mais, foi reconstituindo a história, pedacinho por pedacinho, como a arte de um restaurador. Isso é resultado de anos de coleta de dados. Sempre que ela se deparava com alguém, que poderia acrescentar algo sobre nossos antepassados, ia fundo, vasculhando a fonte, o quanto podia, para extrair o máximo de dados.
        Que bela árvore nós temos e Maninha conseguiu reconstitui-la! Quantas passagens e fatos interessantes ela resgatou e poderão alimentar a curiosidade da larga legião que compõe a descendência de Teodósio de Oliveira Ledo. O tempo há de mostrar que Abrindo o Baú de Aninha será, sem dúvida, um importante ponto de partida e referência para gerações, que nos sucederão, prosseguir no processamento de suas histórias. Por enquanto, muito obrigada minha irmã pela sua inconteste contribuição neste sentido: na busca incessante da reconstrução da memória, que aí está para confirmar. Nosso amado pai, da outra dimensão, com certeza, agradece também.

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                       Discurso de apresentação do livro
                                 Mª da Conceição G P Araújo *

         A satisfação de apresentar o livro da escritora Maria do Socorro Farias Almeida levou-me a um silêncio prazeroso e também a um misto de alegria e responsabilidade. Isso porque este espaço é de Miracy Farias, intelectual aguda e elegante, cuja fala fluente e bem colocada, encanta a todos que a ouvem. Ela ressuscita de Castro Alves a Fernando Pessoa, as pinceladas da literatura clássica tomam um lugar gracioso e imponente nas citações que faz, nos poemas que recita, nas reminiscências ternas dos romances eternos. Espero, pois, como apresentadora menor do Abrindo o Baú de Aninha fazer jus a esta parte que me honra duplamente.
           Ao adotar o livro de Socorro, num só fôlego li-o como quem estava com sede de Boa Vista, de meus antepassados tão citados nas conversas de casa no tempo de minha infância... Madrugada a dentro a memória dos Pereira e dos Araújo foi se tornando viva, as sombras nebulosas desaparecendo a cada página que se seguia.         
          Nesta viagem especial entrei num cenário que também é meu e de todos aqui presentes. Os nossos velhos rodopiaram no silêncio da noite, e cada um num imaginário seleto se postou diante de mim, cada um do seu jeito de ser: tossindo, escarrando, maldizendo, rezando, resmugando, ordenando, cantando, arrastando os chinelos de sola, fumando um cigarro de palha, pigarreando a garganta, balançando-se na cadeira, passando silencioso de chapéu de massa, acertando a hora do relógio, cruzando-se entre si e de repente gargalhadas estridentes, despreocupadas ou expressões sisudas onde a expressão de acenos davam a nota de que a noite deixou de ser silenciosa... Foi aí que notei que estava dentro do livro de Socorro e me dei conta de que existiam uma história já contada e a minha se mesclava na leitura noite a dentro.
         Causou-me uma infinita admiração e respeito pelo cuidado, pela veracidade dos dados genealógicos. Trabalho paciente, penoso até. Trabalho delicado e dedicado, quando a autora se refere àqueles que de uma forma ou de outra, contribuíram para a construção das memórias de Aninha, principalmente quando recorre à História Oral, representada na pessoa respeitável e querida de Seu João Vitorino.
         Os registros, as fotos, os casos ou os causos levaram-me à emoção e à lágrima, principalmente, quando me deparei com a foto de Mãe Celecina, dentre tantas outras. Recordei Mãe Celecina através daquele olhar plácido, manso, mas um olhar profundo e sábio de um Avatar!
           O título Abrindo o Baú de Aninha foi muito apropriado cuja representação está impregnada de surpresas preciosas. Esta é a função do baú: guardar tesouros! O baú é o coração de Socorro! O baú é o berço saudável de outros que virão...
          Repensando, livro de Socorro, lembro-me de Cecília Meireles, que em algum livro de sua obra poética assim se expressou: se há uma pessoa que possa, a qualquer momento arrancar de sua infância uma recordação maravilhosa essa pessoa sou eu. Ela como Socorro não diz de onde recebeu tão variadas expressões, mas de todo um conjunto de situações ligadas aos adultos, às suas conversas, aos objetos, ao ambiente e à natureza. Logo Abrindo o Baú de Aninha é um entrelaçamento que testemunha de um só golpe os meandros de Genealogia com a Antropologia e com a Poesia no cotidiano dos Pereira e dos Araújo.
A título de curiosidade, faço uma resenha da história das origens dos Pereira e dos Araújo, sem referência da fonte, pois estes dados foram retirados, por acaso, de uma foto de brasões familiares dos mesmos.
             Vejamos o que dizem: Pereira – linhagem das mais antigas de Portugal. Os Pereira descendem de Dom Fernando, Rei de Leão, passando à digníssima linhagem pelos reinados de Dom Garcia. Rei de Galícia, Dom Afonso VII, Rei de Portugal e assim sucessivamente. Os descendentes de Dom Fernando Pereira, primeiro deste sobrenome foram ilustres personagens da Casa Real Portuguesa. Por méritos, dedicação e entrelaçamento tornaram-se pares do reino condes, viscondes, duques e barões. O Brasão de Armas foi concedido à família em 1177. Os Araújo, assim se apresentam: o primeiro a usar este sobrenome foi Dom Rodrigues Anes de Araújo e que teve como propriedade o Castelo de Araújo. Foi ainda governador das terras do Rei, Cavaleiro da Casa Real Portuguesa e dignatário da Ordem de Cristo e da Ordem de Avis. O brasão de armas da família foi concedido em 1275.
       Vários milênios da história contadas com muito suor e generosidade, é como se os Pereira e os Araújo não morressem, apenas repassaram sem perder o fio condutor da criação que os pôs no mundo... E assim será, os Pereira e os Araújo não desparecerão. É incrível como esse Portugal Mourisco está vivo em nós: na arte de nossas igrejas, no ritmo compassado e binário de nossa música, no virtuoso do aboio de nossos vaqueiros, uma forte e comovente recordação.
           Cá estão os Pereira e os Araújos nas lembranças apreendidas por Socorro: umas pitorescas, onde o riso vem fácil e se volatiliza noutros relatos pungentes ou no silêncio das entrelinhas... Socorro cumpre no seu livro a função social da memória, onde o ato de relembrar exige um espírito desperto, a capacidade de não confundir a vida atual com a que passou, de reconhecer as lembranças e opô-las às imagens de agora... Eclea Bosi, em seu livro Lembrança dos Velhos diz que lembrança é um diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito e que o sentimento precisa acompanhá-la para que ela não seja uma imagem fugidia. O sentimento também precisa acompanhar as lembranças para que ela não seja uma repetição do estado antigo, mas uma REAPARIÇÃO.
         Reaparição é o Abrindo o Baú de Aninha onde Socorro derrama a alma amorosa solene e rememora a sua família, nomes queridos, lugares como a Fazenda Navalha, que cortante e viva se aflora na infância, no cardápio, nos banhos de tanques naturais e no cheiro de coisas guardadas.
          Neste mapeamento afetivo estão as raízes profundas de outras memórias, como um desabrochar natural de uma vida encantada com os sonhos, imagens e sons que povoam o cenário da infância de Socorro em Boa Vista. Quem sabe se nessa emergência cheia de alma, Socorro encontre nas vozes da igreja, nas ruas, nas procissões do Bom Jesus, nas cantigas de roda das noites de lua, nas serenatas na calçada da Igreja, nos assobios de valsas dolentes na madrugada, no Grupo Escolar Teodósio de Oliveira Ledo, nas flores e odores das primeiras chuvas, nas casas fechadas, nos telhados desorganizados, no queijo de coalho, na feira do Mercado Velho, nas raras enchentes do riacho Cachoeirinha a insultar a velha ponte, na Igreja dos Altares, no terço de Edy, na Abissínia dos Relâmpagos, nos velhos que previam a morte, a vida, na difusora do Moacir, nos retratos dos álbuns, no carnaval sujo e papangus, nas redes cheirando a guardado, nos sons guturais e cânticos da senzala de Zé Doido, no porte veneziano do Capote de Seu Estêvão, no imaginário de Seu Antônio da Silva, o Prefeito, nos bolinhos de goma de Maria de Campeão, nas macaíbas de Seu Chila, no odor espichado dos coros de Seu Josué, nas injeções de Inácio Damião, nas cocadas de seu Teófilo, na Banda de Música de Seu Maximino, nas retretas de Lumico, na saudade de Dona Francisquinha, uma nova inspiração?
            No livro, porém, os Pereira e os Araújo, junto com os de Santa Rosa de Antônio de Almeida, não terão o destino do esquecimento. A memória do Baú de Aninha os salvou, mais uma vez. Obrigada.