sexta-feira, 27 de julho de 2012

O maior brasileiro

Fátima Farias

          O SBT anunciou a primeira eliminatória para eleger ‘o maior brasileiro de todos os tempos’. Chico Xavier e Irmã Dulce são os primeiros da disputa e lamento estarem juntos porque gostaria de votar em cada um, em eliminatórias diferentes. 
         Ambos detentores de todos os méritos para vencer, nenhum teria interesse neste concurso, pois  o único objetivo que movia suas vidas era fazer o bem e doarem-se ao próximo, sem holofotes ou espera de reconhecimento de qualquer natureza.
         Este aspecto aumenta, assim, em nós brasileiros, a responsabilidade muito grande em eleger alguém com méritos para nos representar. Decidi observar critérios como perfil para merecer minha escolha e a primeira foi eliminar políticos. Para mim, não existe qualquer justificativa para um deles representar meu Brasil.     
       Na sequencia das eliminatórias, para disputar o título, votarei em Chico Xavier, Airton Senna, Santos Dumont e Pelé e farei as argumentações:

       Chico Xavier – Modelo de vida digna e reserva moral,  dedicou toda sua trajetória a serviço da paz e da doação de amor ao próximo. Milhares de almas foram consoladas com sua mensagem de fé e otimismo e por isso era respeitado por líderes e seguidores de diversos credos. Escolher Chico Xavier é contemplar a também a arte e cultura nacional. Através da sua psicografia, os espíritos de grandes escritores continuaram a manifestar seus talentos, em mais de 400 obras, tratando de diversos temas. Estes livros estão entre os mais lidos da América Latina, chegando até a superar os de Jorge Amado, além de serem traduzidos em diversos idiomas. O melhor é que Chico reverteu todos os direitos autorais em assistência social para pessoas carentes. Através da literatura e sua vida abnegada, Chico Xavier deixou de ser um ícone brasileiro e passou a ser um símbolo com repercussão nacional.

       Ayrton Senna – Promoveu muitas alegrias ao povo brasileiro e pôs em destaque a logomarca Brasil no cenário mundial. Além do ídolo que foi e carisma que conquistou dos brasileiros, só após sua prematura morte foi que conhecemos mais um aspecto marcante de sua personalidade: ajudar instituições carentes, anonimamente. Sem dúvida, um grande gesto.

       Santos Dumont – Ao inventar o avião, indiscutivelmente, ele prestou um grande serviço ao  planeta, no segmento da tecnologia, possibilitando, assim, encurtar distâncias. Sem dúvida, um dos maiores e importantes inventos de todos os tempos, assinado por um brasileiro, para nosso orgulho.

      Pelé – Também contribuiu para a alegria dos brasileiros, além de levar o nome do nosso país para todos os continentes.

      Estes são os nomes que torço como finalistas para escolha de ‘o maior brasileiro de todos os tempos’. Qualquer um deles que conquistar o título sinto-me bem representada, como brasileira. Mas, apesar de todos os méritos dos demais, revelo que Chico Xavier é o voto do meu coração.

       

domingo, 1 de julho de 2012

Chico Xavier, meu presente e a emoção indescritível

                                     Fátima Farias  



                              
         Há momentos inesquecíveis em nossas vidas.  Existem também presentes especiais que, ao invés dos convencionais, embalados num papel, vem revestido de pura emoção. Faz dez anos que fui contemplada com ambos e continuam repercutindo na minha alma. Fiz questão de olhar o relógio para gravá-los, na minha memória e coração, quando os recebi. Aconteceu dia 28 de março de 2002, às 23h40, de uma quinta-feira, quando fiquei frente a frente com Chico Xavier.  
             Cheguei ao seu lar, acolhida pela excelente receptividade do seu filho, Eurípedes Higino, e o presente da feliz oportunidade, concedido pela amiga Lisle Lucena, que desfrutou da amizade de Chico por mais de quinze anos. Aquele encontro foi um misto de felicidade e emoção, além da realização de um sonho. Só o fato de ingressar no seu ambiente familiar  era suficiente para ser tomada por aquela vibração energética. Já ouvira falar que era assim, mas sinto dificuldade em reproduzir aquela sensação que dele emanava. Simplesmente indescritível! 


              Viajei da capital paraibana,  João Pessoa, acompanhada dos amigos Severino Celestino e sua esposa Graça, Bob Vagner e Iliseu Garcia, para passarmos a Semana Santa em Uberaba  (MG). Do grupo, tive um privilégio maior, ao ficar hospedada com Lisle na residência de Chico. Assim pude conviver com o dia-a-dia daquele ser especial e entender porque era tão amado e respeitado acima de credo religioso. Com o relato desta experiência, publicada no jornal O Norte, onde trabalhava na época, considero a reportagem mais marcante da minha carreira jornalística. Também está registrada, com mais detalhes, no meu livro ‘Encontro com Consciências – Diálogo da unidade com a diversidade’.
        Após o nosso primeiro encontro, uma surpresa maravilhosa. Era noite da sexta-feira, 29 de março. Estávamos na sala eu, Lisle, e a dupla de músicos brasilienses, Carlos Maurício e Izaltino Júnior, que foi tocar para o médium. Acompanhado de seu filho Eurípedes, Chico chega para assistir ao Jornal Nacional e o capítulo da novela O Clone. Ele fez referências ao noticiário, lamentou os conflitos anunciados no Oriente Médio, elogiou a beleza da atriz Giovanna Antonelli, que fazia o papel de Jade, e gostou de ver o baile que passava na novela.

           Transfusão energética - A seguir, naquela sala, aconteceu o ponto alto de minha convivência com Chico Xavier. Eurípedes, o filho adotivo, sentado ao seu lado e fazendo-lhe carinho, saiu por uns instantes e eu ocupei seu lugar. Segurei a mão esquerda de Chico e, ao afagá-la, ele me olhou carinhosamente e sorriu. Instantes depois pensei em soltá-la para deixá-lo confortável, mas, para minha surpresa, era ele quem segurava minha mão direita. Foi quando senti uma vibração tão forte, bombardeando meu ser, como se fora uma transfusão energética. Haja coração! É uma emoção sempre revivida quando relembro.
           Cerca de uma hora depois, Chico pediu para se recolher, deu boa noite e beijou as nossas mãos. O músico Carlos Maurício disse-lhe: ‘O senhor é muito importante’. Ele respondeu: ‘Eu sou muito pequenino’, repetindo a demonstração de humildade, tão peculiar em sua trajetória.
         Ao longo dos quatro dias em Uberaba, convivendo de perto com Chico Xavier, este período foi pontilhado de momentos marcantes. No sábado, os quatro amigos paraibanos chegam do hotel para o almoço com Chico, em sua casa, para um seleto número de convidados. Todos foram unânimes em sentirem-se presenteados e a demonstrar a emoção sentida e expressar felicidade. Era almoço regado a lágrimas. 
Flash da formação da fila para recebimento da cesta básica, no 
Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier


         À tarde fomos ao Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier para assistir e registrar a distribuição de cestas básicas, agasalhos e brinquedos para crianças e enxovais às gestantes. A equipe iniciou os trabalhos com prece, leitura e comentário do Evangelho, fazendo assim a ponte do trabalho social com a assistência espiritual.

           Ecumenismo em ação – Observei que a tendência ecumênica fazia parte do dia-a-dia de Chico Xavier. Primeiro pelo respeito e assistência que ele recebia e tinha para com as pessoas, independentemente de credo. Na copa, onde ele passava grande parte do dia, e no seu quarto, simples como como ele mesmo, esculturas e imagens de Nossa Senhora. Do micro system ecoavam músicas eruditas, mas também as do estilo romântico de Roberto Carlos, Nossa Senhora, Ave Maria, Padroeira e outras do gênero. Como sua hóspede, percebi que a boa energia do ambiente, bastante simples, mas aconchegante, era saudada logo cedo da manhã pelo canto dos bem-te-vis.
           Bastante carinhoso com os seres em geral, Maria Higino Miranda, que trabalhou vários anos com Chico, revelou que ele não permitia a dedetização da casa, para não matar os insetos. Outra peculiaridade, relatada por Maria, é que Chico era tão atencioso com as pessoas que o rodeavam que ele fazia questão de confeccionar, artesanalmente, os cartões de saudação que enviava por ocasião de datas especiais. Uma espécie de hobby que ele cultivava.

          Comemoração do último aniversário de Chico Xavier

           No sábado, 30 de março de 2002, participamos da festa de seu último aniversário (ele completaria 92 anos, dia 2 de abril) e exatamente três meses depois ele se despedia do Planeta, quando nós, brasileiros, comemorávamos o pentacampeonato mundial de futebol. Mas naquela noite de sentimos, testemunhamos e compartilhamos de pura emoção.




Chico Xavier no Grupo Espírita da Prece, no dia do aniversário,
com a medalha que recebeu do Rotary Clube de São Paulo 



           Eram 19h40 quando Chico chegou para a reunião no Grupo Espírita da Prece.  Foi recepcionado por uma multidão com gritos, aplausos e emoção. Todos queriam tocá-lo ou, pelo menos, vê-lo de um melhor ângulo. Muitos haviam chegado ao local cedo da manhã, para conseguir um lugar privilegiado na fila. Os portões de acesso abriam às 16 horas. Era um gesto repetido há décadas, aos sábados.
A imprensa buscava depoimento de pessoas que viajavam milhares de quilômetros exclusivamente para isso. A tarefa era fácil, pois ali estava gente de todas as idades, classes sociais, credos e recantos do Brasil. Durante o dia, constatado num city-tour, placas de ônibus indicavam origem de diversas localidades. Fui informada que os hotéis estavam superlotados.
         Enfim, eu e os amigos paraibanos fomos protagonistas e, ao mesmo tempo, espectadores daquelas doces lembranças, regadas a momentos de muita emoção. Chico ocupou seu lugar na cabeceira da mesa. Começou a reunião com uma prece, seguida da leitura do Evangelho e comentário  da  senhora Marilene Paranhos Silva. Ela ilustrou sua palestra destacando a importância de Deus em nossas vidas e dos exemplos de humildade e amor de Cristo e de Chico Xavier, respectivamente. ‘Com todo respeito a outros missionários, mas não se tem notícias de uma pessoa que haja dedicado mais de 75 anos de sua vida ao trabalho de amor ao próximo. Chico Xavier é um missionário de luz, conforto, amor e alegria’, destacou.
Concluída esta parte dos trabalhos, com uma prece final, foi formada  a fila para os cumprimentos a Chico Xavier. Expectativa, emoção, alegria eram sentimentos expressos nas fisionomias. Incansável, ele recebeu até o último da fila, com a mesma atenção, carinho e alegria. Foi beijado e beijou as mãos de cada um. Eu que experimentei, falo com conhecimento de causa: a vibração daquele gesto é indescritível. Muita gente já chorando, muito antes de se aproximar. Cada pessoa recebia uma fatia do bolo de aniversário com refrigerante.
        Chico Xavier recebeu diversas homenagens artísticas. O Rotary Clube de São Paulo concedeu-lhe uma medalha. Questionado por um jornalista sobre um presente que ele gostaria de receber, respondeu: ‘a paz de Deus para o mundo’, reafirmando a sua trajetória de viver mais em prol dos outros do que de si próprio.
        Quando deixou o Grupo Espírita da Prece mais aclamação do público, num momento em que uma bela lua cheia no horizonte completava a homenagem e parecia também saudá-lo. Obrigada Chico pela felicidade de conviver com sua energia. Você que agora é luz plena, em algum lugar deste imenso Universo!
 
Comitiva da PB com os Eurípedes: Tahan (médico de Chico) e Higino (o filho)

                          ANTES DE CHEGAR À UBERABA
 
 No aeroporto de Belo Horizonte encontramos  
a dupla Pedro e Tiago e aí está o registro

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