sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Aos pais de outra dimensão

    Fátima Farias


    Manifestação de afetividade, acredito, independe de data especial. Mas, já que hoje, conforme está convencionado, existe um pretexto e todo um clima está voltado para abraçar, almoçar ou passar o dia com o pai, de repente me bate uma saudade maior. Não posso ver nem tocar o meu amado pai. A dimensão que nos separa permite apenas sentir sua sublime energia. Energia que me acalenta, que me faz provar uma sensação de paz, embora não faça superar a falta de sua presença física.
    Filhos e pais que estão neste planeta e que hoje tem a chance de se confraternizar, não percam esta oportunidade. Um pai é muito importante na vida da gente. Para os dois vale a pena refletir a importância desta relação, em alguns casos, só notada quando não é mais possível compartilhar. E ninguém melhor expressou isso     que o grande jornalista Artur da Távola, em alguns trechos da crônica que transcrevo a seguir:
    “A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto... É o começo do balanço da própria vida... É o início da significação. As palavras, antes inocentes, começam a fazer um estranho e novo sentido. Voltam a ser o que significam e não o que aparentam. A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo.
    O que não fizemos, a visita deixada para depois, o gesto adiado, a palavra não dita, a compreensão não exercida, o papo adiado, a advertência desdenhada, o convite abandonado sem resposta. Nunca somos mais sós do que na primeira noite em que já não o temos. Depois piora: dói menos mas a solidão é maior...
    O pai é o mistério enquanto vida e revelação depois de morto. Num segundo entendemos tudo o que, durante a vida nele nos parecia uma gruta de mistérios. Ele só começa a viver quando não está... Seus objetos ganham mais vida, suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas palavras ganham o sentido que só o tempo e a repetição outorgam às coisas”.
    E para complementar a homenagem aos pais que habitam no Além e especialmente ao meu, peço licença ao espírito de Sérgio Bittencourt, para usar o trecho de sua composição musical e dizer ao meu amado pai que “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”

Publicado na  minha coluna dominical no jornal O Norte em 11.08.2002

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